Sistema do Malalai permite compartilhar o trajeto e analisar seus riscos e benefícios
A insegurança nas cidades é um mal que aflige muitos brasileiros, mais ainda as mulheres. O medo do abuso e da violência que elas possam vir a sofrer ao caminhar pelas ruas, utilizar do transporte coletivo ou individual de passageiros, e até mesmo dentro de casa ou no local de trabalho, toma delas o completo direito às cidades. Uma realidade que fica cada vez mais explícita com o aumento de relatos de vítimas nas mídias. E foi a partir de um desses relatos que surgiu o Malalai, ferramenta desenvolvida por uma arquiteta mineira que pode auxiliar na segurança da mobilidade das mulheres.
A arquiteta e urbanista Priscila Gama, natural de Ponte Nova/MG, leu em uma hashtag (palavra-chave que conecta diferentes conteúdos à um tema) um de diversos depoimentos de mulheres que tornam-se vítimas da violência no país. E esse relato deu à Priscila o incentivo para criar um aplicativo cuja função é aumentar a segurança nesse e em outros modos de deslocamento.
Segurança pelo compartilhamento
O sistema do Malalai permite que usuárias compartilhem suas rotas com alguém em sua lista de contatos, para que ela possa acompanhar em um mapa todo o seu deslocamento. Além disso, também é possível notificar essa pessoa quando se chega ao destino ou enviar um alerta em caso de emergência, sempre informando a localização da pessoa em questão.
O app também conta com a possibilidade de inserir informações sobre pontos positivos e negativos no mapa, como má iluminação, comércio aberto e em qual horário, presença de polícia e porteiros, dentre outros. Essas informações montam um mapa colaborativo com dados fundamentais para maior segurança na mobilidade.
Conheça
No link abaixo você acessa o site do app. Nele você encontra maiores informações, novidades, contatos e até mesmo um link para colaborar com o desenvolvimento da ferramenta, participando do financiamento coletivo.
Site oficial do aplicativo Malalai
Para saber mais sobre a ferramenta, confira o vídeo abaixo, onde a própria Priscila explica como funciona.
Malalai na mídia
Encontro com Fátima Bernardes
Priscila criou aplicativo que atua como ‘companhia virtual’ para mulheres. A arquiteta fala no programa “Encontro” sobre o sistema colaborativo para informar caminhos mais seguros para mulheres.
Clique aqui e veja sua participação no programa que foi ao ar no dia 5 de outubro de 2017.
O Globo
“Mulheres sem medo mudam o mundo”
Globo: Conte algo que não sei.
Priscila: A cada 11 minutos uma mulher sofre violência sexual no Brasil, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O problema, no entanto, é muito maior do que mostram os dados oficiais, porque a taxa de subnotificação é muito grande.
G: Ainda é tabu o debate sobre violência contra a mulher?
P: Normalmente, a vítima só fala sobre o que aconteceu com alguém íntimo ou não conta para ninguém. Para se ter ideia, apenas 10% dos casos de abuso sexual são registrados. Com o objetivo de trazer mais casos à tona, a ONG Think Olga criou há dois anos a campanha #meuprimeiroassedio, estimulando o compartilhamento de relatos nas redes sociais.
G: Qual foi o resultado?
P: Surgiram milhares de histórias. A que mais me chocou foi a de uma mulher que foi estuprada dentro de um táxi, no Rio. No relato, ela não lembrava muito bem do ato, mas sim de acordar sozinha na rua e sentir muitas dores nos dias seguintes. Antes de ser atacada, ela percebeu que o taxista havia mudado de rota e a última recordação que tinha era de ter perguntado aonde ele a estava levando. Depois de ler aquele depoimento, não consegui dormir. Pensei que o desfecho teria sido diferente se ela pudesse ter alertado alguém sobre a mudança de rota. A partir dessa inquietação, surgiu a ideia de usar a tecnologia para ajudar as mulheres.
G: Que tecnologia é essa?
P: A partir de uma pesquisa com mais de duas mil mulheres, descobrimos três pontos em comum: a preferência por se deslocar por vias mais movimentados, o receio de usar celular na rua e o hábito de informar a localização para alguém quando estão sozinhas. A partir daí desenvolvemos o aplicativo Malalai, que usa o celular como companhia virtual.
G: Como funciona?
P: Com o aplicativo Malalai, você pode convidar uma pessoa da sua lista de contatos para acompanhar os seus deslocamentos no mapa. Também é possível escolher que a pessoa seja avisada quando você chegar em determinado lugar. Além disso, é possível fazer um alerta de localização. As informações coletadas geram mapeamento colaborativo sobre os pontos mais perigosos.
G: Quais são os aspectos avaliados nesse mapeamento?
P: Hoje, mapeamos seis condições: iluminação da rua, movimentação, presença de polícia, presença de porteiro, ponto comercial aberto e recorrência de assédio. A usuária do aplicativo informa esses dados por dia e por hora. No futuro, teremos um mapa da violência.
G: Como tem sido a resposta?
P: O mapeamento hoje está mais concentrado em Belo Horizonte, onde o aplicativo foi lançado. Percebemos que muitas mulheres têm medo de pegar sozinha um táxi ou pedir um carro particular no aplicativo. Tem moças que deixam de fazer cursos ou trabalhar à noite por terem que andar sozinhas. Nosso objetivo é incentivar a independência em mobilidade, porque mulheres sem medo mudam o mundo.
G: Há planos de expansão?
P: Vamos permitir que essa colaboração seja feita também pela web. Além disso queremos desenvolver um hardware bem pequeno, em forma de pingente ou chaveiro, que permita à mulher fazer o alerta de emergência de forma discreta, apenas apertando um botão.
Via O Globo